sexta-feira, 6 de junho de 2014

Casamento

Essa noite eu sonhei com meu casamento.  Aos 14 anos eu sonhava com meu casamento repetidas vezes. Naquela época sonhava que eu entrava na igreja, vestida de noiva e, ao chegar ao altar dava a mão ao meu noivo.  O curioso é que sonhava exatamente isto noites seguidas e nunca conseguia ver o rosto daquele noivo. Depois de algum tempo estes sonhos foram embora. Não me lembro de ter voltado a sonhar algo parecido.
Hoje tenho 24 anos e na noite passada sonhei com meu casamento. Desta vez o cenário era outro. A igreja não aparecia. Não via o noivo novamente, mas eu sabia bem quem ele era. O recorte deste sonho era o do momento seguinte à cerimônia.
Eu entrava sozinha num quarto à meia-luz, - um quarto que lembrava o meu aos 14 anos-, e já entrava me desvencilhando do vestido de noiva e falando com alguém que me ouvia de fora, ou falando sozinha, não tenho certeza. Eu me olhava no espelho e apressada começava a tirar o corpete branco. Então me dava conta de que não era exatamente um vestido de cima abaixo. Era uma blusa-corpete e uma saia longa. Tudo branco, mas não era um, eram dois.
Desamarrado o corpete eu me olhava de novo no espelho, observando minhas costas. Ainda não tinha tirado a blusa por completo. Virava de frente e dizia a mim mesma: - Será que não devo tirar uma foto e colocar na internet? Se não fizer isso ninguém vai saber que me casei. Olhava-me no espelho, pensativa, não usava muita maquiagem e não sorria muito.
Com a blusa nas mãos dizia: - Posso usar outras cores de saia com essa blusa também. Melhor guardá-la!
Imaginava-me então vestindo azul, vermelho, amarelo. O quarto continuava pouco iluminado. Eu continuava pensativa. Continuava vestindo a saia branca. Os seios de fora. A fotografia não compartilhada.  A sensação burocrática de um contrato assinado. A sensação esquisita de que nada mudou. Não me sentia casada. Não me sentia feliz. Nem triste. Não me sentia diferente. Não me sentia.
O quarto continuava escuro. O quarto continuava bagunçado. O quarto continuava aquele que não era mais meu.
Na verdade não tinha ninguém lá fora.