Essa noite eu sonhei com meu casamento.
Aos 14 anos eu sonhava com meu casamento repetidas vezes. Naquela época
sonhava que eu entrava na igreja, vestida de noiva e, ao chegar ao altar dava a
mão ao meu noivo. O curioso é que
sonhava exatamente isto noites seguidas e nunca conseguia ver o rosto daquele
noivo. Depois de algum tempo estes sonhos foram embora. Não me lembro de ter
voltado a sonhar algo parecido.
Hoje tenho 24 anos e na noite passada sonhei com meu casamento. Desta vez
o cenário era outro. A igreja não aparecia. Não via o noivo novamente, mas eu
sabia bem quem ele era. O recorte deste sonho era o do momento seguinte à
cerimônia.
Eu entrava sozinha num quarto à meia-luz, - um quarto que lembrava o meu
aos 14 anos-, e já entrava me desvencilhando do vestido de noiva e falando com
alguém que me ouvia de fora, ou falando sozinha, não tenho certeza. Eu me
olhava no espelho e apressada começava a tirar o corpete branco. Então me dava
conta de que não era exatamente um vestido de cima abaixo. Era uma
blusa-corpete e uma saia longa. Tudo branco, mas não era um, eram dois.
Desamarrado o corpete eu me olhava de novo no espelho, observando minhas
costas. Ainda não tinha tirado a blusa por completo. Virava de frente e dizia a
mim mesma: - Será que não devo tirar uma foto e colocar na internet? Se não
fizer isso ninguém vai saber que me casei. Olhava-me no espelho, pensativa, não
usava muita maquiagem e não sorria muito.
Com a blusa nas mãos dizia: - Posso usar outras cores de saia com essa
blusa também. Melhor guardá-la!
Imaginava-me então vestindo azul, vermelho, amarelo. O quarto continuava
pouco iluminado. Eu continuava pensativa. Continuava vestindo a saia branca. Os
seios de fora. A fotografia não compartilhada.
A sensação burocrática de um contrato assinado. A sensação esquisita de
que nada mudou. Não me sentia casada. Não me sentia feliz. Nem triste. Não me
sentia diferente. Não me sentia.
O quarto continuava escuro. O quarto continuava bagunçado. O quarto
continuava aquele que não era mais meu.
Na verdade não tinha ninguém lá fora.
Nenhum comentário:
Postar um comentário