Ele
usava lápis embaixo dos olhos. Barbudo e cabeludo. Me olhava de longe. Desviei o
olhar um pouco atrasada. Estava colocando as compras no caixa. Me agachava e
levantava diversas vezes com um iogurte ou um pacote de papel higiênico nas
mãos. Na água de côco percebi que ele tinha se mudado para a minha fila. Uma senhora
com quatro sucos de soja nos separava.
Coloquei ali as compras da semana um
tanto encabulada. Evitava olhar para ele, mas estava curiosa. Eu sei que o meu
vestido longo e amarelo chamava atenção. Era uma figura colorida em meio às
compras da tarde. Seus olhos e sua barba também chamavam atenção. Era algo
familiar para mim em meio à confusão do supermercado.
Eu empacotava tudo apressada, mas
não tinha horário algum marcado. Ele me observava enquanto comia uma ameixa
calmamente. Era uma figura engraçada. Era uma dessas imagens misteriosas que eu
gosto de guardar na memória. Era familiar não sei bem por que. Era atraente na
sua calma, na sua curiosidade tranqüila. Os olhos fixos em mim.
Eu estava quase de saída quando ele,
indo pagar sua compra pequena, se jogou em frente às minhas sacolas. Pedi licença
e fui embora carregada. Era segunda-feira. Era fim de tarde. Era um dia comum. Era
só mais um olhar que deveria se manter desconhecido.
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