Mamãe
se chama Helena e ontem fez 42 anos. Mamãe trabalha na fábrica e ontem ela
também trabalhou. Trabalha desde moça. Eu quis dar a ela um presente de
aniversário, mas não tive tempo para juntar dinheiro. Miguel e Mateus, meus
irmãos, também trabalham na fábrica e também não trouxeram presentes.
Mamãe gosta de olhar para fora da
janela do nosso barraco e ver o céu azul com manchas cinzas de fumaça que se
desfazem no ar e se misturam nas nuvens branquinhas. Eu também gosto de ver.
Gosto de sentir que estou na fumaça e vou voando pelo ar. Talvez mamãe também
sinta isso. Não pergunto, só olho as nuvens e mamãe parada a olhar pela janela,
a colocar a mão no queixo e olhar.
Às vezes, de noite, ela pega a velha
caixa de madeira que tem na estante e põe-se a brincar com a fita vermelha. Eu
sempre quis usar a fita vermelha no cabelo, mas mamãe nunca deixou. Eu não sei
de onde essa fita vermelha veio, mas sei que sempre esteve aqui. Me lembro
também de um homem de vermelho que saiu pela porta quando eu era pequenininha.
Mamãe não me disse quem é.
Ontem ela recebeu meu abraço de
parabéns e chorou. Depois foi olhar a fita vermelha. Acho que a fita foi algum
presente de aniversário. Acho que ela vai guardar a fita pra sempre. Vermelha.
Cada vez mais desbotada.
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