Foi
o encontro tão esperado que nunca chegava. Na primeira vez foi tão de longe que
eu nem pude sentir o seu gosto. Doía-me apenas olhar e senti-lo tão distante,
ao mesmo tempo em que podia sentir o seu cheiro. Fui embora imaginando
cada detalhe que eu não conhecia, cada som e cada movimento perfeito. E eu já
sentia saudade. E eu sentia as gotas salgadas escorrendo pelo meu rosto. Será
que as ondas tinham aquele mesmo sabor?
Na segunda vez, meses depois, eu
pude chegar tão perto que eu nem sabia o que fazer diante de tanta imensidão. O
vento era forte e as ondas dançavam. A cor oscilava entre o verde e o azul.
Meus pés saíram da areia e mergulharam naquele frio. Eu me senti purificada e
com as mãos espalhei as gotas pelo corpo, ainda sóbrio e enxuto.
Na terceira vez o sol brilhava tão
forte que a cor era de um azul profundo e meu corpo se deixou levar pelas águas
quentes. Abandonei-me com tanta satisfação que o seu gosto de fato salgado me
parecia um sabor raro, misto de paixão e candura, calmaria e delírio, sabor que
eu senti poucas vezes na vida. E meu encontro com o mar finalmente acontecia. E
lá estávamos eu e ele. A sós.
Na superfície eu sentia alguns raios
de sol derretendo as gotas na minha pele, e o vento que movia tudo ao redor.
Mas eu ainda estava sob controle. Quando eu mergulhei tudo sumiu. Não se via
nada além do azul, não se ouvia nada além do canto abafado da imensidão
líquida, não se sentia nada além de uma espécie de liberdade ilimitada.
As ondas me levavam para onde elas
queriam. E eu era livre para me deixar levar. Eu era livre para sentir que meu
corpo flutuava, que meu corpo alcançava a plenitude, movendo-se por vontade
própria e sem qualquer imposição. Sem qualquer controle.
Eu não sei onde estavam meus
pensamentos. Deviam estar bem guardados, eu não me preocupava. Eu sentia toda a
vibração da liberdade. Da entrega. Eu sentia a vontade de mergulhar cada vez
mais profundamente. De me transformar em água. Misturar-me. Completar-me.
Era como um delírio. Era como poder
tocar seu corpo sem me sentir culpada.
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